Conheça a Yongle Da Dian, a maior enciclopédia em papel do mundo

O imperador chinês Yongle, da dinastia Ming, é bastante conhecido pelas suas conquistas militares. Mas ele também era um intelectual que adorava ler.

Logo após assumir o trono, em 1403, Yongle ordenou que a Academia Hanlin reunisse e categorizasse trabalhos literários de um modo que textos raros fossem preservados e suas referências fossem facilmente encontradas. O projeto, que deu origem a um manuscrito intitulado Trabalho completo de literatura, durou um ano e empregou cerca de cem acadêmicos. Ao apresentar o trabalho final ao imperador, os membros da academia tiveram uma baita surpresa. Yongle rejeitou o trabalho e exigiu que ele fosse ampliado.

Imperador Yongle. Fonte: Wikipedia, CC0. 

Para isso, a Academia Hanlin foi completamente reestruturada. Inicialmente responsável por editar textos de éditos e proclamações, este trabalho mais burocrático foi relegado aos oficiais do Império e, em 1405, a academia passou a reunir mais de dois mil acadêmicos, que foram enviados para todos os cantos da China com a missão de reunir e compilar textos das mais variadas áreas do conhecimento, no que se tornou a mais extensa enciclopédia impressa em papel.

A frente do trabalho estava o editor geral Yao Guangxiao e, como co-editores Dao Yan, assessor pessoal do Imperador, e Liu Jichi, o Vice-Ministro de Punição.

Nesta enciclopédia foram incorporados mais de oito mil textos, desde a antiguidade até o início da dinastia Ming, incluindo agricultura, arte, astronomia, drama, geologia, história, literatura, medicina, ciências naturais, religião e tecnologia.

O projeto se estendeu por mais quatro anos, tendo sido completado em 1408. Incluía mais de oito mil textos, em 22.937 rolos de manuscritos (equivalente ao nosso capítulo), reunidos em 11.095 volumes. Ocupava cerca de 40 metros cúbicos e utilizou cerca de 370 milhões de caracteres chineses.

O imperador Yongle ficou tão satisfeito com o trabalho final que colocou seu próprio nome no trabalho – Yongle Da Dian – e escreveu um longo prefácio destacando a importância da preservação destes trabalhos.

A enciclopédia Yongle, em mostra na Biblioteca Nacional da China, em  2014. Fonte: Wikipedia, CC2.0. Foto: LW Yang

A aparência física desta enciclopédia é diferente das outras enciclopédias chinesas produzidas na época, incluindo o modo com que foi encadernada. Foi utilizado papel especial e tinta vermelha para os títulos e o nome dos autores. Uma tinta especial foi reservada para uso exclusivo do imperador. Cada volume recebeu uma capa dura revestida em seda amarela.

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A enciclopédia não foi organizada por tema, mas por um sistema rítmico-fonético chamado Hongwu zhengyun, que ajudava na localização dos tópicos.

Nesta época, os chineses já conheciam a xilografia e, teoricamente, poderiam ter impressos mais cópias desta enciclopédia. Não se sabe o motivo exato (especula-se desde motivos políticos a problemas financeiros), mas apenas duas cópias da enciclopédia foram produzidas. Estas cópias foram mantidas em Nanjin até 1421, quando a capital do Império foi movido para Beijing e a enciclopédia foi guardada na Cidade Proibida.

Em 1557, essas cópias foram quase destruídas em um incêndio, o que fez com que o então imperador Jianqing ordenasse a produção de uma terceira cópia, iniciada em 1562 e finalizada em 1567. O texto que deu origem a essa terceira cópia desapareceu. Como Jianqing morreu em dezembro 1566 e só foi enterrado três meses depois, em março de 1567, especula-se que o original tenha sido enterrado com ele, mas também pode ter sido perdido durante um dos  incêndios ocorridos na Cidade Proibida em anos posteriores.

Já não restava quase nada dos manuscritos originais da Yongle Dadian ao final da dinastia Ming, mas cerca de noventa por cento da cópia feita em 1567 sobreviveu até o século XIX, quando, por ocasião da Segunda Guerra do Ópio, ingleses e franceses saquearam e incendiaram a cidade várias vezes. Soldados de ambos os países levaram partes dos manuscritos como souvenirs de guerra.

Em 1894, restavam somente cerca de 800 volumes dos 11 mil. Rebeliões, guerras e ocupações posteriores, somados a um incêndio na Academia Hanlin, destruíram ainda mais exemplares. Muitos foram saqueados e somente 60 volumes permaneceram em Beijing.

Hoje, menos de 400 volumes sobreviventes foram localizados, o que soma cerca de 800 capítulos (rolos), ou seja, cerca de 3,5% do trabalho original. Eles se encontram espalhados em várias bibliotecas e museus principalmente na China, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha.  

Fontes:

CAVE, Roderick; Ayad, Sara.The history of the book in 100 books. Richmond (Canada): Firefly Books, 2014.

WIKIPEDIA. Yongle Encyclopedia. URL: https://en.wikipedia.org/wiki/Yongle_Encyclopedia. Acesso em 20 fev 2019.

WIKIPEDIA. Hanlin Academy. URL: https://en.wikipedia.org/wiki/Hanlin_Academy. Acesso 20 fev 2019.

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