Tradicionalmente, a capa de um livro serve a duas funções: proteger as páginas e indicar o conteúdo interno do livro. É desta segunda função que trataremos aqui. Para editores, designers e ilustradores, o velho ditado “não julgue um livro pela capa” deve ser jogado fora. O livro, antes de ser aberto é, em essência, a sua capa. É a partir dela que muitos leitores decidirão saber mais sobre ele e, quem sabe, comprá-lo.

Tipos de capa

Neste artigo, classificamos as capas em quatro tipos: as de coleção, as informativas, as evocativas e as conceituais (embora existam outras formas de tipificá-las).

Capas informativas

Alguns livros, como muitos científicos e técnicos, requerem capas absolutamente informativas: seu título, subtítulo e/ou autor responderão mais pela venda do que uma capa que apele para a persuasão. Muitas vezes, a venda já foi decidida antes do consumidor chegar a livraria: o título foi indicado por um amigo ou professor.

Neste caso, uma capa com conceito fundamentado em princípios de marketing direto é o mais indicado. Título, subtítulo e autor devem estar claramente indicados. Informações adicionais que poderão ajudar o leitor a decidir pela compra devem ser consideradas: “300 exercícios solucionados” ou “nova edição 2020 atualizada” podem ser informações interessantes, por exemplo.

Capas evocativas

A capa evocativa traz em uma alusão àquilo que o texto trata, sem que o consumidor precise se esforçar para correlacionar o conteúdo àquilo que vê — em geral, o título faz tal conexão. Capas de livros para a primeira infância são muitas vezes evocativas, pois acredita-se que nesta fase a criança deva desenvolver a capacidade de relacionar texto e imagem.
 


 

A capa desta edição de O corvo, de Edgar Allan Poe, utiliza uma ilustração de Gustave Doré, feita em 1884. Ela evoca o conteúdo do poema ao ilustrar um corvo que entra pela janela.

 
 

 

Esta capa do clássico de Aluísio de Azevedo, O Cortiço, ilustrada por Diego Moscardini, meramente ilustra o título do livro.

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Capas conceituais

A capa conceitual, diferente da evocativa, cobra do leitor certa capacidade interpretativa. Ela geralmente apresenta um jogo entre título e imagem, uma alegoria, um paradoxo ou outro recurso léxico-visual. O leitor olha a capa e precisa de um segundo para “sacar” o que está vendo. Esse tipo de capa funciona. Primeiro porque, ao se mostrar inteligente, faz o potencial leitor se sentir igualmente inteligente ao conseguir interpretá-la. Segundo, porque coloca um sorriso no rosto de quem decifra a mensagem.
 

 

Na capa de A garota no trem, Jaya Miceli combina elementos para criar a sensação de movimento, replicando o ponto de vista de quem assiste ao mundo pela janela. Na capa não estão nem o trem, nem a personagem do título, mas a sensação está lá.

 
 

 

Na capa do livro Against Happiness, a designer Jennifer Carrow utiliza uma tipografia bem simples para representar o título: contra a felicidade. O amarelo e a opção por não acrescentar nenhuma outra informação à capa (somente título e autor) conferem ainda mais poder ao significado.

Capas de coleção

Os livros de coleção ajudam a promover uns aos outros e ajudam a chamar a atenção quando dispostos uns ao lado dos outros nas prateleiras de livrarias físicas ou virtuais. Livros em coleção também ajudam a reforçar a marca da editora.

Para que tudo isso funcione, as capas dos livros devem indicar que estes pertencem a uma mesma coleção. Atingimos este objetivo ao estabelecermos características visuais semelhantes, formando um padrão entre eles.
 

 

Nesta coleção de 8 livros sobre a história de Buda, o designer Chip Kidd faz com que uma lombada se integre a outra por meio de imagens que ilustram o personagem em diferentes fases. Note como os livros parecem se tornar um só e chamar atenção para si quando dispostos lado a lado.

 
 

 

Na coleção de clássicos do horror da Penguin, com design e ilustrações de Paul Buckley, a sensação de pertencimento é garantida, dentre outros fatores, pelo traço marcante das ilustrações, pelas cores (todos os livros utilizam preto chapado mais uma cor neon), pela tipografia (sempre a mesma e sempre em branco) e pela pintura trilateral.

 

Algumas dicas

  1. Descubra qual tipo de capa é mais condizente ao tipo de livros. Livros técnicos tendem a uma capa mais informativa. Textos clássicos e para a primeira infância tendem a uma capa mais evocativa. Autores desconhecidos podem precisar de uma capa mais persuasiva de modo a atrair atenção de quem não o conhece.
  2. Pense no livro como um todo. Muitas editoras têm o miolo do livro diagramado por uma pessoa e a capa feita por outra. Isto não é um problema em si, mas o projeto do livro como um todo deve ser coordenado. A capa e o miolo devem ser harmoniosos entre si, com as páginas pré-textuais (folhas de guarda, falsa folha de rosto e folha de rosto) assumindo papel principal nesta transição.
  3. Briefing é tudo. Se você está encomendando a capa, passe o máximo de informações possíveis sobre o livro, sobre o que se espera da capa e sobre o que não se espera (sim, é isso mesmo. Assim você evita que façam exatamente o que não deve ser feito). Se você é capista, obtenha o máximo de informações que conseguir sobre o livro, o autor e o perfil de público esperado. Chip Kidd, um dos maiores designers de capas contemporâneos, lê o livro antes de fazer a capa. Isso não cabe na programação nem no orçamento da maioria dos designers editoriais, mas quem sabe um dia, né?
  4. Ao optar por uma capa evocativa, não conte a história na capa: não desenhe o assassino, nem o beijo final do casal. Parece óbvio, mas, como a cena final geralmente é a mais marcante, muitos autores insistem em ter exatamente esta na capa.
  5. É primordial seguir atentamente o que o autor descreve. Se a personagem principal é branca, loira, gorda e de olhos azuis, ao ilustrá-la na capa, ela deverá ter essas características. O mesmo vale para cenários e objetos.
  6. Seja advogado do leitor. Seja você autor, editor ou designer, provavelmente seu objetivo principal é fazer o livro chegar na mão (e, quem sabe, ser lido) pelo maior número de pessoas possíveis. Então, deixe ideais e preferências pessoais de lado e se pergunte: “quem vai comprar/ler esse livro?”, “O que essa pessoa espera dele?” e, principalmente, “Como posso tornar esta experiência fantástica?”

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