Tradicionalmente, a capa de um livro serve a duas funções: proteger as páginas e indicar o conteúdo interno do livro. É desta segunda função que trataremos aqui. Para editores, designers e ilustradores, o velho ditado “não julgue um livro pela capa” deve ser jogado fora. O livro, antes de ser aberto é, em essência, a sua capa. É a partir dela que muitos leitores decidirão saber mais sobre ele e, quem sabe, comprá-lo.
Tipos de capa
Neste artigo, classificamos as capas em quatro tipos: as de coleção, as informativas, as evocativas e as conceituais (embora existam outras formas de tipificá-las).
Capas informativas
Alguns livros, como muitos científicos e técnicos, requerem capas absolutamente informativas: seu título, subtítulo e/ou autor responderão mais pela venda do que uma capa que apele para a persuasão. Muitas vezes, a venda já foi decidida antes do consumidor chegar a livraria: o título foi indicado por um amigo ou professor.
Neste caso, uma capa com conceito fundamentado em princípios de marketing direto é o mais indicado. Título, subtítulo e autor devem estar claramente indicados. Informações adicionais que poderão ajudar o leitor a decidir pela compra devem ser consideradas: “300 exercícios solucionados” ou “nova edição 2020 atualizada” podem ser informações interessantes, por exemplo.
Capas evocativas
A capa evocativa traz em uma alusão àquilo que o texto trata, sem que o consumidor precise se esforçar para correlacionar o conteúdo àquilo que vê — em geral, o título faz tal conexão. Capas de livros para a primeira infância são muitas vezes evocativas, pois acredita-se que nesta fase a criança deva desenvolver a capacidade de relacionar texto e imagem.
Capas conceituais
A capa conceitual, diferente da evocativa, cobra do leitor certa capacidade interpretativa. Ela geralmente apresenta um jogo entre título e imagem, uma alegoria, um paradoxo ou outro recurso léxico-visual. O leitor olha a capa e precisa de um segundo para “sacar” o que está vendo. Esse tipo de capa funciona. Primeiro porque, ao se mostrar inteligente, faz o potencial leitor se sentir igualmente inteligente ao conseguir interpretá-la. Segundo, porque coloca um sorriso no rosto de quem decifra a mensagem.
Capas de coleção
Os livros de coleção ajudam a promover uns aos outros e ajudam a chamar a atenção quando dispostos uns ao lado dos outros nas prateleiras de livrarias físicas ou virtuais. Livros em coleção também ajudam a reforçar a marca da editora.
Para que tudo isso funcione, as capas dos livros devem indicar que estes pertencem a uma mesma coleção. Atingimos este objetivo ao estabelecermos características visuais semelhantes, formando um padrão entre eles.
Algumas dicas
- Descubra qual tipo de capa é mais condizente ao tipo de livros. Livros técnicos tendem a uma capa mais informativa. Textos clássicos e para a primeira infância tendem a uma capa mais evocativa. Autores desconhecidos podem precisar de uma capa mais persuasiva de modo a atrair atenção de quem não o conhece.
- Pense no livro como um todo. Muitas editoras têm o miolo do livro diagramado por uma pessoa e a capa feita por outra. Isto não é um problema em si, mas o projeto do livro como um todo deve ser coordenado. A capa e o miolo devem ser harmoniosos entre si, com as páginas pré-textuais (folhas de guarda, falsa folha de rosto e folha de rosto) assumindo papel principal nesta transição.
- Briefing é tudo. Se você está encomendando a capa, passe o máximo de informações possíveis sobre o livro, sobre o que se espera da capa e sobre o que não se espera (sim, é isso mesmo. Assim você evita que façam exatamente o que não deve ser feito). Se você é capista, obtenha o máximo de informações que conseguir sobre o livro, o autor e o perfil de público esperado. Chip Kidd, um dos maiores designers de capas contemporâneos, lê o livro antes de fazer a capa. Isso não cabe na programação nem no orçamento da maioria dos designers editoriais, mas quem sabe um dia, né?
- Ao optar por uma capa evocativa, não conte a história na capa: não desenhe o assassino, nem o beijo final do casal. Parece óbvio, mas, como a cena final geralmente é a mais marcante, muitos autores insistem em ter exatamente esta na capa.
- É primordial seguir atentamente o que o autor descreve. Se a personagem principal é branca, loira, gorda e de olhos azuis, ao ilustrá-la na capa, ela deverá ter essas características. O mesmo vale para cenários e objetos.
- Seja advogado do leitor. Seja você autor, editor ou designer, provavelmente seu objetivo principal é fazer o livro chegar na mão (e, quem sabe, ser lido) pelo maior número de pessoas possíveis. Então, deixe ideais e preferências pessoais de lado e se pergunte: “quem vai comprar/ler esse livro?”, “O que essa pessoa espera dele?” e, principalmente, “Como posso tornar esta experiência fantástica?”
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