O papel do design na produção tradicional de livros

Quando se pensa no processo de produção editorial, o papel do design é tradicionalmente colocado na parte de diagramação de um livro cujo conteúdo já foi produzido, preparado e revisado. Isso se deve, em grande parte, à visão do Design como Design Gráfico, pensando somente na funcionalidade estética do produto final, sem conexão com outras funções que o designer pode atender. Então, o texto bruto, tabelas e imagens são enviadas ao designer gráfico, que cria ou reproduz um padrão estético, a ser aprovado pelo editor. O livro então é revisado novamente e enviado para a produção.

O livro é muito mais que um livro. Ou deveria ser

Um livro não é só texto e imagem. Ele é um um produto de consumo, um objeto que deve satisfazer a demandas semelhantes a produtos desenvolvidos em qualquer outra área, de aplicativos para smartphones a carros e geladeiras. Estas demandas são estabelecidas pelo mercado consumidor.

Desta forma, podemos ver o livro, desde sua concepção, como um objeto, um projeto de Design de produto.

Alguns exemplos de perguntas que deveríamos fazer ao conceber um projeto editorial que são comuns no design de produtos e serviços:

Qual o perfil do meu leitor? E do meu consumidor? Há mais de um?

Em primeiro lugar, está o consumidor. Não há motivo para publicar um livro se não houver público para o mesmo. Para cada livro, existem diferentes perfis de consumidores e leitores. Um livro de receitas para iniciantes deve possuir conteúdo e design diferentes daqueles dirigidos a quem tem mais experiência na cozinha. Isso deve ser trabalhado desde a concepção do projeto: o modo com que as receitas e seções são apresentadas, linguajar, glossários, imagens, capa etc.

Além disso, nem sempre quem compra o livro é quem o lê. Devemos pensar em cada um destes atores, o que desejam e o que esperam daquele livro. Alguém que compra um livro para um amigo pode sentir-se mais inclinado a comprar uma edição mais luxuosa do que compraria para si. Estudos mais atuais sobre marketing, design centrado no usuário e experiência do usuário abordam este assunto de forma aprofundada e esclarecedora.

 

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Qual tarefa meu livro ajuda o leitor-consumidor a executar?

Um livro pode atender a tarefas exclusivamente funcionais, como adquirir conhecimento sobre determinado assunto, mas também a tarefas sociais (parecer bem perante os outros), ou a tarefas emocionais (entreter-se, sentir-se mais seguro).

Este relacionamento entre objetos e pessoas é um campo estudado pelo Design Emocional e complementado pelo design de proposta de valor. Como qualquer objeto, um livro que auxilie o leitor em tarefas de diferentes tipos tem mais chance de sucesso. Para saber mais sobre design emocional, um bom começo é o livro de Donald Norman, Design emocional: porque adoramos (ou detestamos) os objetos do dia a dia.

Onde e como meu livro vai ser lido?

O local e as circunstâncias em que determinado livro será lido pode influenciar não só no formato e nos materiais adotados na sua produção, mas até mesmo no seu conteúdo. Alguns exemplos:

  • Um guia de turismo cujas páginas (principalmente mapas e esquemas) possam ser removidas e levadas durante passeios, reduzindo o peso transportado.
  • Livros de puericultura que sejam leves, fáceis de manusear e de localizar informação. Pais de recém-nascidos geralmente não têm tempo nem tranquilidade para ler livros grossos, pesados e com tipografia miúda enquanto amamentam e trocam fraldas.
  • Livros de receitas com espaços para anotações e cujas páginas sejam resistentes à líquidos, evitando a sujeira e a eterna pergunta – foi essa a receita de bolo que eu fiz ano passado?

Como posso agregar valor ao meu projeto?

O livro não tem que ser somente um livro. Ele é um produto, um projeto que pode se estender e agregar valor oferecendo serviços extras.

Especialmente em se tratando de livros de não-ficção, devemos pensar não somente nas tarefas a serem executadas pelo leitor, mas também nas dores que o livro pode amenizar, e nos ganhos inesperados que ele pode oferecer. Um exemplo bem simples seria o já proposto em um exemplo anterior: um guia de turismo em forma de fichário, em que as páginas possam ser removidas, reduzindo o peso. Um outro exemplo seria um livro que ofereça conteúdo extra online, desde que este conteúdo realmente atenda à uma necessidade do seu cliente.

O designer é muito mais que um gráfico

Como falamos inicialmente, editoras estão acostumadas a pensar no Design de um livro somente no contexto gráfico-visual, relegando o designer a uma posição periférica.

No entanto, um bom designer é um profissional familiarizado com conceitos de design thinking, design emocional e design de proposta de valor. Ele pode contribuir muito com ideias que vão muito além gráfico-visual, considerando experiência e o relacionamento do seu consumidor com a editora.

Concluindo, um bom profissional de design tem o potencial de agregar e muito valor aos seus projetos editoriais e a editora como um todo. Basta tirá-lo da sala de diagramação.

Para finalizar, indicamos a leitura do livro Value Proposition Design, de Alex Ostewalder, Yves Pigneur e Greg Bernards (Altabooks, 2015, 320 páginas).

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