E aí você recebe um e-mail: “Prêmio Jabuti 2020 – Você foi selecionado como jurado para a categoria Projeto Gráfico.” Em sua 62ª edição, o Prêmio Jabuti é um dos maiores reconhecimentos literários da América Latina. Que honra!

Mesmo lecionando Design há anos e tendo tido o privilégio de montar o meu próprio curso livre de Design Editorial (aquele que, em vez de ensinar InDesign, está focado na  teoria e na prática de como fazer um livro gostoso de ver e de ler), não posso negar que rolou um certo frio na barriga: será que eu sou essa Coca-Cola toda?

Aí você respira fundo, revisa mentalmente o próprio currículo e diz que sim, vamos lá!

Todo o processo me pareceu bastante idôneo: quase nenhum contato direto é feito com os organizadores, tudo é automatizado; e o contrato prevê uma bela multa caso o jurado deixe escapar sua condição antes da data de publicação dos finalistas – momento em que já não se pode mudar os votos. Além disso, antes de aceitar a participação, recebo a lista de livros, dos designers e editoras concorrentes, para garantir que não estou envolvida em nenhum daqueles projetos.

De repente, num belo dia de semana, o porteiro liga pro meu apartamento. Entrega. Não imaginava o que podia ser. Abro o elevador e me deparo com duas enormes caixas cheias da coisa que eu mais gosto na vida: livros, livros, livros!

E a saga começa: escolher os treze melhores entre 134 livros. Os critérios estão no regulamento: beleza gráfica e plástica do projeto; originalidade e inovação; funcionalidade e adequação ao perfil da obra.

Foi um mês recheado de post-its, caneta e um empilhar e desempilhar de livros pra lá e pra cá no chão da sala. Estes aqui não têm chance, fácil de separar. Esta pilha aqui são de livros perfeitos, mas sem nada de original. Aquela ali dos superinovadores, mas com problemas sérios de funcionalidade. E aí? O que fazer?

Filosofo sobre o que é inovação e originalidade; sobre o quanto pequenos erros de grid podem interferir em uma coisa tão subjetiva quanto a beleza. Me perco em livros lindos, tão lindos que me pego lendo o livro inteiro, perdendo a tarde e o foco; me segurando para não fazer minha escolha pelo conteúdo. Relembro a história do Design e dos livros, da Companhia Editora Nacional ao Cranach-Presse, do Art Nouveau ao Contemporâneo.

Que pesquisa linda deve ter sido feita para alguns livros, que erros tolos acabam tirando livros lindos do páreo – e que páreo!

O prazo de entrega das notas está próximo e me restam uns vinte livros maravilhosos, mas preciso reduzi-los a treze. Ai, ai… como comparar uma obra de arquitetura com um livro infantil? Como separar ilustração – que tem categoria específica – do projeto gráfico?

Um certo dia, paro tudo – o celular, a TV, o marido – e decido que é hora de bater o martelo. Pronto, estão ali os treze, com as notas que julgo merecerem, pelo trabalho de pessoas que acredito se esforçaram ao máximo para trazer o melhor que o projeto gráfico pode fazer por um livro.

É claro que os meus treze não serão exatamente os mesmos dos outros jurados. Muito do julgamento é inegavelmente subjetivo, porque faz parte da trajetória de vida de cada um. Naquele momento, não sei quem eles são, não sei quem se aprofundou em determinados temas tanto quanto eu, nem quem estudou pontos que eu posso desconhecer; ou reconheceu aquele detalhezinho que me fez considerar tal livro genial, e qual detalhe eu mesma posso ter deixado passar.

Penso e penso novamente. Se eu pudesse, dava uma menção honrosa para vários dos livros que não estavam nos treze que escolhi, pelo grid mais bem-feito, pelo acabamento mais bonito, pelo tratamento de imagem perfeito. Mas o propósito de todo concurso é este: selecionar finalistas e definir ganhadores.

Respiro fundo. Aperto o enviar. Agora é esperar, ver quem serão os escolhidos. Me pergunto se a minha ansiedade é tão grande quanto a daqueles que competem… 

Enfim, missão cumprida.

 

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Cibele Bustamante dá aula nos cursos livres de Design Editorial, InDesign e produção de E-books e na pós em Edição e Gestão Editorial. Saiba mais sobre a coordenadora do Nespe aqui.

 

 

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