Talita Camargo é uma das professoras da pós-graduação em Edição e Gestão Editorial aqui no Nespe. Ela é sócia da 2Books, especializada na distribuição de livros universitários e é a entrevistada da semana. Na conversa, ela fala sobre o presente e o futuro da distribuição do livro, o impacto da derrocada das grandes redes de livrarias e do crescimento de players virtuais.

Confira a entrevista abaixo:

Happy Hour Nespe – O mercado livreiro tem mudado muito. A pandemia acabou por acelerar o processo de expansão dos canais digitais; as grandes redes mais consolidadas entraram em colapso; outras surgiram e a gente vê um reflorescimento das livrarias independentes, sobretudo nas grandes cidades. Como você analisa todos esses movimentos?

Talita Camargo – Todo movimento de mudança é importante e não necessariamente bom ou ruim. É importante ter um olhar analítico cuidadoso para entender para onde as coisas vão caminhar e que caminho vão seguir. Se, por um lado, o colapso das grandes redes segurou o volume de vendas, por outro, é bonito demais ver novas livrarias abrirem as portas e se consolidarem no mercado, tornando-se até mesmo pontos turísticos e de resistência da cultura.

HH – A Nielsen aponta crescimento do varejo. Você, que fornece livros para muitas das varejistas, sentiu esse crescimento também?

TC – É necessário ficar atento, pois muito desse volume de vendas está concentrado nas grandes redes virtuais, como Amazon e B2W, por exemplo. E, embora sejam excelentes parceiros, sempre vão querer mais descontos e prazo de pagamentos. Então, fica o questionamento: o quanto o mercado suporta essas demandas? É para se pensar e ter cautela.

HH – De acordo com a última Pesquisa Produção e Vendas, o canal Distribuidores perdeu parte do seu marketshare entre 2019 e 2020. A pandemia deve ter muito que ver com isso. Pela sua prática, você acredita que houve uma recuperação disso em 2021 e a gente poderá ter resultados melhores?

TC – Por experiência da 2BOOKS, 2021 foi um grande ano para os distribuidores e para o mercado como um todo. Podemos esperar grandes números nas próximas pesquisas e projetar um 2022 ainda melhor. Mas nem tudo é só alegria: o cenário e instabilidade econômica do País, bem como a alta da inflação balança todos os setores e o nosso não é exceção. Podemos esperar, também, pelo aumento do preço médio do livro e isso deve elevar o faturamento, mas os números devem ser analisados com cautela para não causarem uma falsa impressão de positividade. Ainda assim, vejo com otimismo e bons olhos a retomada do setor.

HH – E dentro desse sistema, como você avalia o futuro da distribuição no Brasil?

TC – Avalio com otimismo. Primeiro porque o livro sempre resiste. Segundo, porque a figura central do distribuidor é quem vai seguir garantindo abastecimento e bibliodiversidade nos pontos de venda ao redor de todo o país.