Fernanda Dantas gerencia o Brazilian Publishers (BP), projeto setorial de incentivo à exportação de conteúdos editoriais brasileiros. Ela é a entrevistada do Happy Hour Nespe desta semana. No ano que vem, o projeto encampado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) completa 15 anos. Na conversa, Fernanda fez um balanço dessa década e meia e falou ainda da retomada dos eventos internacionais; adiantou o que o BP está preparando para a próxima Bienal Internacional do Livro de São Paulo (03 a 10/07) e deu dicas de o que um livro brasileiro precisa para conseguir alcançar outras partes do mundo.

Happy Hour Nespe – No ano que vem, o Brazilian Publishers completa 15 anos de vida. Que balanço você faz dessa década e meia?

Fernanda Dantas – Acredito que o BP se consolidou ao longo destes anos como um modelo de projeto para apoio e incentivo à internacionalização do mercado. Ao longo dos anos, o projeto foi ganhando estrutura, conhecimento e maturidade, refletido hoje na grande diversidade de ações realizadas e parcerias estratégicas fundamentais. Hoje, o BP tem reconhecimento internacional e é referência quando se fala do mercado editorial brasileiro. O BP começou basicamente fazendo feiras internacionais e, com o tempo, passou a realizar estudos de mercado, fornecer formações para os associados e profissionalização internacional. Novos produtos e ações foram surgindo naturalmente, como a bolsa tradução, a categoria internacional no prêmio jabuti, o apoio para licitações internacionais e a jornada profissional, entre outros.

Durante a pandemia, investimos na transformação digital, realizamos diversas rodadas de negócios on-line e investimos bastante na comunicação internacional, mostrando ao mundo o que temos de melhor para oferecer. O projeto está em constante movimento e atualização, ouvindo e respeitando as demandas das empresas e do mercado, buscando soluções e propondo caminhos.

Vejo um saldo muito positivo, não apenas para as empresas que passaram ou que ainda fazem parte do projeto, mas para o mercado e o Brasil como um todo. O posicionamento internacional como país produtor de conteúdo de qualidade que temos hoje, é muito diferente de 15 anos atrás. Evoluímos enquanto projeto e enquanto mercado.

HH –  O BP tem voltado às feiras internacionais depois do tenebroso período duro da pandemia. Como tem sido essa retomada?

FD – Retomamos a participação nas feiras internacionais, ainda em 2021. Nossa primeira participação com estande foi na Feira de Guadalajara, porém algumas semanas antes tive o privilégio de participar da Publishers Conference, em Sharjah. Naquele momento, ainda com muitos protocolos de segurança, foram reunidos mais de 500 profissionais do livro, em evento que aconteceu sem intercorrências. Foi o primeiro grande reencontro do mercado, que reuniu verdadeiramente players do mundo todo.

Logo depois, tivemos a feira de Guadalajara, que foi um momento importante para o mercado editorial mundial estabelecer uma retomada aos eventos presenciais. Naquele momento, ainda havia muito receio e dúvidas, por parte dos editores de como seriam o evento e os protocolos, uma vez que o México era um dos únicos países sem restrições de viagem ou exigências de apresentação de vacina ou teste. Porém, o evento aconteceu de maneira organizada e tranquila, e apesar da participação internacional em Guadalajara ter sido menor que o usual, os editores presentes conseguiram realizar bons negócios, além de desfrutar do reencontro de parceiros e colegas.

Sabemos que o retorno das empresas apoiadas aos eventos é gradual, mas a expectativa é retomarmos a patamares pré-pandemia já no próximo ano. Consideramos que a participação nas feiras internacionais neste primeiro semestre (Bolonha, Londres, Buenos Aires e Bogotá) foram muito boas, tanto em volume de negócios quanto em participantes.

HH – O que o BP está preparando para a Bienal Internacional do Livro de São Paulo?

FD – O BP organiza a 3° edição da Jornada Profissional na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Para esta edição, além das rodadas de negócios, teremos na programação duas mesas de discussão e um keynote. Serão 20 convidados internacionais e 60 vagas para editoras brasileiras. Além disso, teremos um jornalista internacional e um influencer cobrindo o evento. As rodadas de negócios e as mesas acontecem nos dias 29 e 30 de junho. Nos dias 1 e 2 de julho, haverá uma programação exclusiva para os convidados internacionais, incluindo visitas a editoras/livrarias, à feira e presença na cerimônia de abertura.

As inscrições para as editoras brasileiras interessadas estão abertas e podem ser feitas diretamente no site da Bienal. Buscamos a cada edição aprimorar o evento. Para o Brasil, é muito importante que tenhamos regularmente um evento de negócios do mercado editorial de relevância internacional. Estabelecer a jornada como um hub de negócios traz para São Paulo, para a Bienal e para o Brasil, uma visibilidade muito importante e uma relevância dentro do mercado global.

HH – Que resultados vocês esperam destas ações da Jornada?

FD – Esperamos que as empresas participantes da Jornada possam realizar muitos negócios e contatos. Que vendam muitos livros e muitos direitos. Em 2018, a última edição presencial, fechamos o evento com um resultado de negócios na casa de USD 700 mil em negócios realizados e expectativas. Esse número foi muito bom, muito acima do esperado, porém refletia o momento do mercado, naquela época em crescimento e bastante otimista.

Em 2020, por conta da pandemia, fizemos a jornada de maneira 100% virtual, e mesmo com uma edição menor e não presencial, tivemos um resultado de USD 130 mil, que consideramos bom frente ao cenário enfrentado. Nossa expectativa para este ano é superarmos esse número de 2020. Além disso, a vinda de um jornalista e um influenciador que farão a cobertura do evento para os principais veículos internacionais proporciona um posicionamento internacional para o mercado brasileiro, nossas empresas e nossos livros, o que complementa nosso trabalho, estabelecendo o Brasil como um mercado profissional e com conteúdo de qualidade para fornecer.

HH – O que um livro brasileiro precisa ter para conseguir espaço no mercado internacional?

FD – Qualquer livro brasileiro pode encontrar seu lugar no mundo. O principal para se obter sucesso é o preparo de quem estará na linha de frente das negociações internacionais. É preciso ter um plano de negócios, conhecer os mercados nos quais tem interesse em ingressar, conhecer os principais players e potenciais parceiros, e estabelecer relações. Em resumo, é preciso ter um profissional apto e disposto a correr o mundo. É preciso muito suor, pois a internacionalização não acontece de forma imediata, é um investimento de longo prazo. Também é muito importante estar presente nos eventos e se fazer conhecer. As relações comerciais no mercado editorial são pautadas sobretudo por relações pessoais. Portanto, é indispensável cultivar essas relações e ampliar sempre o networking. No BP, ajudamos as empresas a realizar o planejamento e a se prepararem, além é claro de todo suporte durante os eventos.