Nesta terça-feira (17), o mercado editorial brasileiro parou para saber sobre os resultados das pesquisas Produção e Vendas e Conteúdo Digital. A primeira apura o que as editoras produziram e venderam de livros físicos e a segunda a produção e vendas de e-books e audiobooks. É a primeira vez na história que os resultados das duas pesquisas foram divulgados conjuntamente.

Os dois estudos são importantíssimos para entender o desempenho da indústria e, no caso da Produção e Vendas, já é possível ver não só a fotografia, mas também o filme, já que ela é realizada há 16 anos, usando a mesma metodologia. Portanto, foi possível criar uma série histórica, que será atualizada em breve.

O PIB da Indústria Editorial

A pesquisa é sempre referente ao ano anterior. Portanto, esta edição olha para 2021. No ano, as editoras brasileiras produziram 391 milhões de exemplares, 84% deles foram reimpressões. Ao todo, elas colocaram no mercado 48 mil títulos, sendo 24% deles lançamentos. Este índice é 3% maior do que no ano passado.

Ao todo, foram vendidos 409 milhões de exemplares, 218 milhões em programas governamentais de compras de livros. E, com a venda destas unidades, a indústria editorial faturou R$ 5,8 bilhões. Este é o “PIB da Indústria Editorial Brasileira”. Deste montante, R$ 3,9 bilhões foram vendas a mercado e R$ 1,9 bilhão em vendas governamentais.

Em comparação com o ano anterior, houve aumento de 15,4% em volume e de 12,9% em valor. Considerando apenas as vendas a mercado, o crescimento nominal é de 6%. Descontada a inflação no período, no entanto, o setor sofreu queda de 4% em termos reais.

Sobe e desce

Um dos principais destaques da pesquisa é o subsetor de Obras Gerais, que apresentou crescimento pelo terceiro ano seguido. Considerando apenas as vendas a mercado, houve crescimento nominal de 14%, acima da inflação no período que foi de 10,06%, segundo o IPCA.

Didáticos, no entanto, apresenta queda nominal de 5% e, em termos reais, a redução é de 14%. Este é um reflexo da pandemia, segundo analisou a economista Mariana Bueno, responsável pela pesquisa, na apresentação desta terça-feira. Ela explicou que a migração de alunos da rede privada para as redes públicas pode ser uma explicação para este fenômeno.

Mariana destacou ainda o subsetor de CTP (Científico, Técnicos e Profissionais), que vinha de três anos consecutivos em queda. Em 2021, no entanto, o subsetor apresentou crescimento nominal de 7%. É abaixo da inflação, mas, ainda assim, uma boa notícia que pode indicar a recuperação do segmento.

O quarto subsetor analisado pela Produção e Vendas é o de Religiosos, que apresentou crescimento nominal de 14%.

O crescimento das “Livrarias Exclusivamente Virtuais”

No entanto, o principal destaque da Produção e Vendas foi a escalada vertiginosa do canal “Livrarias Exclusivamente Virtuais”. Só para traçar uma perspectiva histórica: em 2018, elas eram o quinto principal canal de venda de livros no Brasil, com participação de 4,24%; em 2019, saltou para o terceiro lugar, sendo responsável por 12,7%, e no ano seguinte, alcançou o segundo lugar, com 24,8%.

A pesquisa de agora mantém o canal em segundo lugar, mas tecnicamente empatada com o primeiro lugar – o tradicional canal “Livrarias”. Do faturamento total das editoras, 30% vieram do canal “Livrarias” e 29,9% do canal “Livrarias Exclusivamente Virtuais”.

Este índice demonstra o poderio comercial de plataformas como Amazon e Submarino, os dois principais vendedores de livros no ambiente virtual no Brasil. Não só: demonstra ainda o efeito da pandemia no varejo de livros brasileiro. Se antes já havia uma tendência de crescimento deste canal, a pandemia tratou de acelerar o processo.

Conteúdos digitais

Outro fenômeno que surgiu com a pandemia foi o crescimento e mudança de patamar das vendas de conteúdos digitais – e-books e audiolivros. A pesquisa que teve como ano-base 2020 já tinha demonstrado isso. Agora, o que a Conteúdo Digital demonstrou foi a consolidação deste fenômeno.

Em termos nominais, o faturamento total das editoras com a venda deste tipo de conteúdo cresceu 23% ou 12%, se considerar a inflação no período. Apesar do aumento expressivo, os conteúdos digitais permanecem representando 6% do faturamento total da indústria.

As vendas à la carte, ou seja, de unidades inteiras, representam 69% do faturamento das editoras. Este é o modelo predominante. No ano passado, foram comercializadas 9,4 milhões de unidades e as editoras apuraram o faturamento de R$ 125 milhões neste modelo de negócios.

Já as outras categorias – onde estão os modelos de assinatura, bibliotecas virtuais, cursos on-line e etc) – foram responsáveis por R$ 55,6 milhões de faturamento. O valor é menor, mas estes modelos apresentaram crescimento importante de 14% em termos reais, quando comparado com o apurado em 2020.

Destaque para os sistemas de assinatura que saltaram de R$ 2,9 milhões em 2020 para R$ 4,4 milhões no ano passado. Nestes modelos, os audiolivros se destacam: 15% do faturamento vindo dos modelos de assinatura foram obtidos com este formato.

O preço médio da unidade comercializada de e-books apresentou alta de 12%, superando em 1,4% a inflação.

Ao todo, as editoras declararam um acervo de 92 mil títulos, 11 mil deles lançados no ano passado. A grande maioria (95%) dos conteúdos estão disponíveis no formato e-book e apenas 5% em audiolivros.

As duas pesquisas são realizadas pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e operacionalizada pela Nielsen BookData.

Expectativa x Realidade

Em fevereiro, quando o Nespe lançou o Happy Hour, a sua newsletter semanal, tiramos a bola de cristal do armário e fizemos algumas previsões de o que esperar da próxima Pesquisa Produção e Vendas.

O primeiro destaque era o crescimento das “Livrarias exclusivamente virtuais”, o que de fato aconteceu. Este canal alcançou o tradicional canal “Livrarias” em 2021.

A segunda previsão era o crescimento do subsetor de Obras Gerais, o que também aconteceu. Prevíamos, uma queda dos segmentos de CTP e Didáticos e estabilidade do subsetor de Religiosos. Erramos com CTP, que apresentou crescimento, e com Religiosos, que também cresceu, mas acertamos com o subsetor de Didáticos.

Prevemos o crescimento do preço médio do livro, mas que esse crescimento não seria suficiente para bater a inflação. Dito e feito: o preço médio, considerando apenas as vendas a mercado, apresentou crescimento de 7,2%, abaixo da inflação que foi de 10,2% em 2021.

Outra previsão que fizemos foi um crescimento no número de lançamentos. Também ocorreu: a pesquisa mostra aumento de 3% no número de novos títulos lançados no mercado.

A última previsão era a respeito das vendas governamentais. Apostamos numa diminuição dos volumes nesta modalidade. Erramos feio: houve crescimento de 35,2% em volume e de 30,5% em valor. Que bom que estávamos errados!

Para conferir a íntegra da pesquisa, clique aqui.