Uma das tendências da indústria editorial global é a consolidação – ou concentração, como preferir o leitor do Happy Hour Nespe. O fato é que a formação de gigantes (cada vez mais gigantes) da indústria editorial está posta e é uma realidade.

Este fenômeno se materializa com a Penguin Random House, subsidiária da alemã Bertelsmann, de longe o maior conglomerado editorial de interesse geral do mundo. De acordo com o último Global 50 – The Ranking of The Publishing Industry 2021, a empresa apurou faturamento de US$ 5 bilhões em 2020. Em receita, perde apenas para RELX Group e Thomson Reuters, ambos grupos dedicados ao setor de livros científicos, técnicos e profissionais (CTP).

Em novembro de 2020, a empresa anunciou que estava comprando a Simon & Schuster, a 25ª do Global 50, com faturamento de US$ 901 milhões em 2020. A transação, anunciada em novembro de 2020, foi estimada em US$ 2,17 bilhões.

O próprio Global 50 que traz o ranking das maiores editoras do mundo analisou a compra:

“A liderança da Penguin Random House aumentará ainda mais com a aquisição da icônica americana Simon & Schuster (…). Uma vez consolidada, a potência sediada em Nova York terá aproximadamente o dobro do tamanho da sua concorrente mais próxima, a Hachette Livre, sediada em Paris, que também tem uma grande presença no mercado de livros de língua inglesa”.

A pendenga judicial

Até hoje, essa compra não está concluída. Isto porque, a PRH enfrenta uma pendenga judicial nos EUA.

Tão logo, foi anunciada a compra, Richard Powers, procurador-geral da Divisão Antitruste do Departamento de Justiça americano defendeu que impedir a conclusão desta transação seria uma forma de proteger autores e leitores. Para ele, a compra é anticompetitiva e poderia representar retrocessos como diminuição de adiantamentos para autores e redução da bibliodiversidade.

A PRH também enfrentou dificuldades no Reino Unido. Lá, o órgão de defesa econômica chegou a defender que a aquisição poderia resultar “em uma diminuição substancial da concorrência em qualquer mercado”. No entanto, em maio do ano passado, autorizou a compra.

As cenas dos próximos capítulos

Nos EUA, a novela segue e, nesta semana, foram anunciadas as cenas dos próximos capítulos. Para o dia 1º de agosto, está marcado o início do processo propriamente dito. No último fim de semana, saiu a lista prelimitar de testemunhas arroladas no processo. Entre elas, altos executivos das empresas envolvidas e autores. Dentre eles, Stephen King, publicado nos EUA pela Simon & Schuster.

Ele deverá ser questionado sobre como o mercado de direitos autorais opera, sobre as suas expectativas e necessidades como um dos autores mais vendidos do país e ainda sobre os prováveis efeitos da transação para o mercado de best-sellers.

Agentes literários também estão entre os que serão convocados. Entre eles: Gail Ross, Joy Harris, Elyse Cheney, Jennifer Rudolph Walsh e o temido Andrew Wylie.

Mais exemplos de concentração de mercados

A HarperCollins anunciou a compra da Houghton Mifflin Harcourt por US$ 349 milhões.

A francesa Vivendi, já dona da marca Editis, comprou a espanhola Prisa, controladora da Santillana, com o objetivo de ampliar seu portfólio e se tornar “líder global em conteúdo, mídia e comunicação”.

Em 2020, a própria Vivendi se tornou sócia da também francesa Lagardère, dona da Hachette, e, neste ano, anunciou oferta pública para a compra de todas as ações da empresa.

Na Escandinávia, os dinamarqueses da Egmont compraram a norueguesa Cappelen Damm, antes de propriedade da sueca Bonnier. A Egmont já era dona da Lindhardt and Ringhof, na Dinamarca.

Por aqui, o Grupo Companhia das Letras, que tem como acionista majoritário a PRH, comprou, nos últimos tempos a Zahar, a Brinque-Book e, mais recentemente, a JBC, especializada em quadrinhos e mangás.

A Alta Books, nascida para publicar livros de negócios e técnicos, enxergou oportunidades no segmento de obras gerais e resolveu comprar os ativos editoriais da Alaúde, incluindo o selo Tordesilhas.