Quando foi anunciada a morte do livreiro Tarcísio Pereira, em janeiro de 2021, logo se alastrou pelas redes sociais um grande lamento: morria o livreiro que conquistou o Recife. Em 1970, o potiguar, radicado na capital pernambucana desde a adolescência, fundou a frente da Livro 7, livraria icônica da cidade.

Além de livreiro, foi editor e atuou como superintendente de Marketing e Vendas da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), que acaba de lançar Tarcísio Pereira – Todos os livros do mundo (308 pp, R$ 45 – R$ 18 o e-book). O volume, escrito pelo jornalista Homero Fonseca, reúne relatos de parentes, amigos, ex-funcionários e admiradores do livreiro, conhecido por sempre usar azul dos pés à cabeça.

“O homem de azul se tornou persona de Tarcísio, isto é, sua imagem pública. Uma imagem que começou espontaneamente, mas logo seria consolidada numa construção milimétrica. Um conjunto formado por vários elementos: gosto, comodidade, moda, superstição, marketing”, descreve o autor no livro.

O poder do 7

A Livro 7 surgiu pequena. Foi inaugurada no dia 27 do mês 7 de 1970, em plena ditadura militar. O primeiro endereço foi no número 286 da rua Sete de Setembro, no bairro da Boa Vista, região central do Recife.

“Era tão pequena e tão atulhada de livros que a gente entrava, escolhi um, saía para o corredor para poder tirar a carteira do bolso da bunda e voltava pra pagar no caixa”, contou certa vez o dramaturgo Hermilo Borba Filho (1917 – 1976). A descrição consta no livro.

Aos poucos, a Livro 7 foi crescendo. Apareceu no Guinness Book como a maior livraria do Brasil entre 1992 e 1996. Na época, ocupava um imóvel de 1.200 m².

A decadência do Centro do Recife, a inadimplência de clientes e os planos econômicos que marcaram os anos 1990 foram responsáveis, na avaliação do autor, pela falência da livraria no ano 2000. “Era uma relação comercial de bodega a que estabeleci com os clientes”, resumiu Tarcísio numa entrevista que concedeu dois anos depois do fim da Livro 7.

Tarcísio revelou que planejava abrir uma nova livraria, desta vez, no Mercado da Torre, Zona Oeste da capital pernambucana. Não deu tempo. Ele morreu em decorrência de complicações da covid-19.