Renata Costa é uma militante do livro. Antes de ser secretária-executiva do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), foi coordenadora do Programa Nacional de Incentivo à Leitura e do Sistema Estadual de Bibliotecas do Rio de Janeiro. Além disso, foi curadora de projetos literários do Sesi, avaliadora da Festa Literária das Periferias e coordenou o Conecta Bibliotecas, da OnG Recode, iniciativa de incentivo a bibliotecas públicas financiada pela Fundação Bill & Melinda Gates. Todo este currículo a credenciou para candidata a deputada federal pelo Cidadania. Ela é a entrevistada do Happy Hour Nespe desta semana. Na conversa, ela fala sobre livros, leitura, bibliotecas e literatura; sobre a falta de regulamentação da Lei Castilho e ainda revela detalhes sobre o seu primeiro livro: Leitura cria mundos – um projeto sobre democratização ao livro (Oficina Raquel).

Happy Hour Nespe – Você é referência quando o assunto é leitura e bibliotecas no Brasil. Como esse setor se movimentou nos últimos anos?

Renata Costa – Os últimos anos têm sido de escassez, com o fechamento de mais de 800 bibliotecas públicas e com a falta de políticas de fomento à realização de projetos que tornem esses espaços vivos. Não houve investimento governamental para a área.

Já para o mercado editorial, a pandemia significou um aumento nas vendas de 29,3% em comparação com 2020, isso por conta das vendas pela internet que alavancaram durante o período. Ainda assim, há muito o que ser feito para garantir a valorização das cadeias do livro e leitura.

Temos um imenso trabalho pela frente, para que a pauta se mantenha viva, tanto em termos de políticas educacionais quanto culturais.

HH – Uma luta das pessoas que batalham na mesma causa que você é a pela regulamentação da Lei Castilho, que institui uma política de estado para a leitura e a escrita. O que falta para que isso ocorra?

RC – Hoje falta o decreto que a regulamente. Após a lei aprovada, em 2018, era necessário que houvesse um decreto interministerial, via Ministérios da Cultura e da Educação. Após as eleições de 2018, o Ministério da Cultura foi extinto, dando lugar a uma secretaria. Basicamente a regulamentação indicaria os norteamentos e responsabilidades de cada ministério, no que tange às políticas públicas de livro e leitura no país. Além disso, é necessária a construção de um novo Plano Nacional do Livro e Leitura decenal, como indicado no próprio PNLL e na Lei Castilho.

HH – Recentemente, uma portaria interministerial nomeou os integrantes do conselho do Plano Nacional do Livro e Leitura. O que você achou?

RC – Essa nomeação se deu a partir de um edital de Chamamento Público em 2021, mas como não houve interesse das entidades do livro, ele foi prorrogado sem que a sociedade civil soubesse o motivo. Eu, pelo menos, não sei. Não havia conselho formado há bastante tempo, tampouco coordenação executiva. Agora, a nossa responsabilidade é entender e articular com as entidades nomeadas, para que todo um trabalho estabelecido ao longo de muitos anos não se desfaça nas descontinuidades tão recorrentes do poder público executivo.

Particularmente, não acredito que, neste ano eleitoral, aconteça qualquer ação em prol do PNLL e nem da regulamentação da Lei Castilho. Não há tempo hábil e nem interesse político pela pauta.

HH – Você oficializou a sua candidatura a deputada federal, para compor a Bancada do Livro no Congresso Nacional. Lá, hoje, temos a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Livro. Como avalia a atuação deste grupo?

RC – Estar candidata a deputada federal pela Bancada do Livro tem sido uma experiência única. Após anos trabalhando via poder executivo pela pauta Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, enveredar nesta aventura legislativa é um caminho natural, ou assim tenho entendido.

A Frente Parlamentar Mista em Defesa do Livro foi recomposta em 2018 ainda, como uma forma de mantermos viva a chama dessas políticas. Foi um trabalho a mil mãos em que nós fomos a cada parlamentar em busca de assinaturas para institucionalizar a frente. Hoje compõem mais de 200 parlamentares, entre senadores e deputados federais. Sua existência já é, em si, um ato de resistência do poder legislativo. Nossa ideia era justamente compor um bloco que defendesse nossa causa, especialmente nos anos que viriam, pois não sabíamos o que iria acontecer.

Hoje ela é a principal frente na busca pela aprovação da Lei Cortez, na promoção e defesa de programas de incentivo às bibliotecas comunitárias, escolares e públicas, assim como a criação de ações que revejam a pouca prioridade que o Brasil dá às políticas de incentivo à leitura. É fato que estão fazendo o que é possível dentro de um governo autoritário e isso já é, para a sociedade do livro, um alívio.

HH – Agora, além de especialista no tema, você também é autora de livros. Acaba de lançar “Leitura cria mundos – um projeto sobre democratização ao livro” (Oficina Raquel).  Como está sendo essa estreia?

RC – Está sendo diferente de tudo que já vivi até então, foi um processo intenso de alguns meses reunindo histórias e registros deste caminho tão longo que tenho traçado no decorrer dos últimos 20 anos. E, de certa forma, também é o fechamento de um ciclo, já que passo agora por todas as cadeias do livro, primeiro a produtiva, logo após a mediadora e finalmente a criativa.

O lançamento pela editora Oficina Raquel é muito importante pra mim, porque além da Raquel Menezes ser uma amiga muito querida, a proposta da editora fala sobre muito o que acredito, a diversidade.

Este livro é um presente.