No início desta semana, a Penguin Random House, o maior conglomerado editorial de interesse geral do mundo, publicou o seu Relatório Global de Impacto Social.

O documento resume os compromissos assumidos pela empresa para “acender uma paixão universal pela leitura” e para “criar livros para todos”.

Neste sentido, elege três pilares fundamentais: Diversidade, equidade e inclusão; Meio ambiente e sustentabilidade e Livre expressão e alegria de ler.

Boa parte do relatório se dedica ao primeiro eixo: Diversidade, equidade e inclusão. Mas por que isso é tão importante para o maior grupo editorial do mundo, que reúne mais de 10 mil funcionários em todo o mundo?

A reposta vem em destaque no relatório: “Para criar livros para todos, a demografia da nossa força de trabalho deve refletir a sociedade em que vivemos”.

O que parece lógico está longe, no entanto, de ser uma realidade. Isso lá nos EUA e mais ainda aqui no Brasil.

Diversidade é futuro

Dentro da programação do Papo de Mercado, na última edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, houve uma discussão importante sobre o tema. No palco, um retrato da diversidade da mão-de-obra do setor editorial e livreiro no Brasil.

No entanto, o intento não encontrou eco na plateia. Apesar de cheio, o auditório tinha uma única pessoa responsável pela tomada de decisões e contratações em uma editora. Há interesse por parte das editoras e livrarias brasileiras em discutir o tema? Fica a pergunta no ar.

Estamos avançando em termos de autoria e de temas. Matéria publicada pel’O Globo mostra o que aconteceu com a literatura brasileira desde 2012. Naquele ano, aproveitando o bom momento do Brasil, homenageado na Feira do Livro de Frankfurt no ano seguinte, a revista Granta elaborou uma lista com 20 escritores brasileiros mais promissores. Dos 20, 19 eram brancos e apenas sete eram mulheres. Hoje, uma lista dessa seria impensável.

No entanto, é preciso olhar para o outro lado da história também. Pensar no futuro dessa indústria sem lutar por uma mão-de-obra mais diversa será em vão.

Um bom exemplo dessa preocupação é o relatório anual realizado pela UK Publishers Association. O documento traz o resultado de uma pesquisa que procura traçar um perfil demográfico da mão-de-obra empregada pela indústria editorial britânica.

Mas, mais do que mostrar o perfil dos trabalhadores das editoras, o relatório e a pesquisa estabelecem metas que devem ser perseguidas pelos associados da entidade. É disso que precisamos.

Detalhes do relatório da PRH

Desde 2020, a PRH publica um relatório demográfico das suas unidades de negócios nos EUA. A mão de obra é dividida em dois grandes grupos: os trabalhadores dos centros de distribuição (CD) e os que trabalham no escritório sediado em Nova York ou remotamente.

Considerando apenas os funcionários não lotados nos CDs, 73% se identificam no gênero feminino, 26% no gênero masculino e 0,5% como não binário. A maioria (74%) é composta por pessoas brancas; 10% são asiáticas, 6% negras e 7% hispânicas.

Os esforços da PRH em diversificar a sua mão-de-obra nos EUA aparece no gráfico abaixo, que mostra novas contratações nos últimos seis anos.

O gráfico mostra aumento na diversidade racial nas novas contratações, com aumento mais acentuado nos últimos anos. Apesar da melhoria, a empresa ressalta que precisa ir além e chama a melhoria de “progresso modesto”.

O relatório compara o perfil da sua força de trabalho com os dados demográficos dos EUA. Enquanto 60,1% da população norte-americana economicamente ativa é composta por pessoas brancas, 74,2% dos funcionários empregados pela empresa e 76,1% de “contribuidores” (como eles chamam autores, ilustradores e outros criadores) se declararam brancas.

A maior discrepância aparece entre os hispânicos e negros. De acordo com dados do Censo do país, 18,5% da população economicamente ativa se considera hispânica. No entanto, só 9,1% dos funcionários e 5,1% dos contribuidores são hispânicos. Uma diferença importante também entre os negros. Se o censo aponta que 12,2% da população economicamente ativa é afro-americano, apenas 4,9% dos funcionários e 6,1% dos contribuidores se classificam assim.

“Atingir nosso objetivo final – de uma força de trabalho que represente a parcela economicamente ativa da nossa sociedade – tomará um tempo, mas estamos compromissados em fazer mudanças mais significativas e sustentáveis”, diz o documento.

No Brasil

A PRH é sócia majoritária do Grupo Companhia das Letras aqui no Brasil. Em 2020, a empresa anunciou uma série de ações voltadas para ampliar a diversidade no seu catálogo e também na sua mão-de-obra.

Na ocasião, foi contratado Fernando Baldraia, como editor de diversidade da empresa no Brasil. O grupo anunciou também um censo demográfico para ter uma noção mais clara da composição e da diversidade tanto do catálogo quanto do quadro de funcionários.