O Brasil perdeu cerca de 6,7 milhões de leitores em quatro anos, segundo a 6ª edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, lançada nesta terça-feira (19). O levantamento, realizado pelo Instituto Pró-Livro, revelou pela primeira vez que a proporção de não-leitores superou a de leitores no país: 53% dos brasileiros não leram nenhum livro, impresso ou digital, nos três meses anteriores à pesquisa.

O estudo, realizado entre abril e julho de 2024, incluiu 5.504 entrevistas domiciliares em 208 municípios, abrangendo todas as regiões do país. Para a pesquisa, considera-se leitor quem leu ao menos parte de um livro no período analisado, enquanto não leitores são aqueles que não tiveram contato com livros no mesmo intervalo. Desde o início da série histórica, em 2007, nunca houve uma proporção tão alta de não leitores no Brasil.

A queda no percentual de leitores foi observada em todas as faixas etárias, gêneros, níveis de escolaridade e classes sociais. Apenas entre crianças de 11 a 13 anos e pessoas com mais de 70 anos o índice de leitura se manteve estável. Crianças e adolescentes continuam sendo o grupo com maior percentual de leitores, mas a leitura motivada pelo gosto pessoal diminui à medida que os indivíduos envelhecem.

Entre as crianças de 5 a 10 anos, 38% afirmaram ler por prazer, enquanto esse índice cai para 19% entre aqueles com 30 anos ou mais. Fatores como a falta de incentivo escolar, a concorrência com dispositivos digitais e o acesso limitado a bibliotecas e livros foram apontados como principais desafios para o aumento da leitura no país.

Santa Catarina se destacou como o estado com maior proporção de leitores (64%), seguido por Paraná e Ceará, ambos com 54%. A Região Sul foi a única a registrar uma maioria de leitores (53%), embora o número represente uma queda de cinco pontos percentuais em relação à edição anterior. Em contraste, estados do Norte e Nordeste apresentaram os menores índices de leitura.

Outro dado preocupante é a redução da sala de aula como espaço de leitura. Apenas 19% dos entrevistados mencionaram a escola como local de leitura, o menor índice já registrado na série histórica. Em 2007, essa proporção era de 35%, refletindo uma diminuição constante ao longo dos anos.

A pesquisa também trouxe novos indicadores nesta edição, como a análise dos hábitos de leitura de pais e responsáveis sob a perspectiva de crianças de 5 a 13 anos. Os resultados mostram que famílias com hábitos leitores influenciam positivamente o comportamento das crianças, mas a presença de livros infantis nas residências ainda é limitada.

Especialistas analisam os resultados da Retratos da Leitura em evento de lançamento | ©️Daniela Ramiro

Pela primeira vez, a pesquisa procurou entender as preferências do leitor por livros digitais ou impressos. 48% dos respondentes disseram que já ouviram falar em livros digitais, maior índice da série histórica; 38% deles já leram livros neste formato. A maioria (57%) disse preferir ler livros em papel e 21% disse que tanto faz. 68% disseram que interrompem a leitura para consultar mensagens no celular ou computador quando estão lendo livros digitais; 53% disseram que é mais difícil se concentrar quando está lendo nos formatos digitais.

O estudo reforça a importância de políticas públicas que promovam o acesso ao livro e incentivem o hábito da leitura. O levantamento é um verdadeiro farol para compreender os desafios da leitura no Brasil e orientar ações concretas para transformar o país em uma nação de leitores.

Desde sua primeira edição, em 2007, a Retratos da Leitura é considerada a pesquisa mais completa sobre o comportamento leitor no Brasil, oferecendo subsídios para governos, instituições e o mercado editorial. Nesta edição, o estudo foi patrocinado pelo Itaú Unibanco, com apoio da Fundação Itaú e entidades como Abrelivros, CBL e SNEL, e realizado pelo Ipec.

Além de traçar um panorama do hábito leitor, a pesquisa também investiga o acesso aos livros, a valorização da leitura, os gêneros mais lidos e o papel das bibliotecas, escolas e famílias na formação de novos leitores. Este ano, a coleta de dados incorporou tecnologias mais modernas, como entrevistas realizadas via tablets, para facilitar o registro e análise das informações.

O Brasil, que já foi um país com uma proporção majoritária de leitores, enfrenta agora o desafio de reverter essa queda, fomentando o hábito da leitura em todas as faixas etárias. Especialistas apontam que um dos caminhos está na ampliação de bibliotecas escolares e comunitárias, na criação de programas de incentivo à leitura e no uso de tecnologias que possam competir com outros meios de entretenimento.

A próxima edição da pesquisa está prevista para 2029, mas os resultados atuais já apontam a necessidade de uma mobilização imediata para reverter os indicadores e promover o acesso à leitura como um direito fundamental.