Na manhã desta quarta-feira (28), foram divulgados os resultados da mais recente edição da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, referente ao Ano Base 2024. Coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), com a apuração da Nielsen BookData, a pesquisa é um retrato do desempenho da indústria editorial brasileira e acontece desde 2006.

No geral, as editoras registraram um crescimento nominal de 3,7% nas vendas ao mercado de livros impressos em 2024, totalizando R$ 4,2 bilhões. No entanto, ao descontar a inflação do período, medida pelo IPCA (4,83%), o resultado em termos reais foi de um recuo de 1,1%.

O cenário, contudo, ganha nuances importantes quando se olha para o desempenho dos subsetores e para o segmento digital.

O brilho de Obras Gerais e Religiosos e a queda dos Didáticos

Os subsetores de Obras Gerais e Religiosos apresentaram resultados positivos notáveis nas vendas ao mercado. Obras Gerais cresceu 9,2% nominalmente, e Religiosos, 8,7%, também sem considerar a inflação no período.

No caso de Obras Gerais, o crescimento foi impulsionado pelo aumento do preço médio, que apresentou variação de 7,2%. Mariana Bueno, coordenadora da pesquisa, prefere usar “recuperação” em vez de aumento, já que, historicamente, o preço do livro cresceu aquém da inflação desde 2006, quando o estudo começou a ser feito.

Já o crescimento do subsetor de religiosos foi impulsionado pelo aumento do número de exemplares vendidos, com destaque para Café com Deus Pai, livro que lidera as listas de mais vendidos.

O subsetor de Didáticos foi o único a registrar um desempenho nominal negativo (-5,1%) nas vendas ao mercado em 2024. Essa queda contribuiu significativamente para a variação negativa do mercado total de impressos. Essa retração pode estar relacionada, em parte, à expansão de novos modelos de acesso ao conteúdo, como sistemas de ensino, que nem sempre são totalmente capturados pela pesquisa, mas que, segundo estimativas de mercado, já representariam cerca de 50% do total da categoria Didáticos.

O bom resultado de Obras Gerais e Religiosos e a retomada do subsetor de CTP – que vinha enfrentando sucessivas quedas – ajudou o mercado a alcançar números positivos. Ao se excluir o desempenho negativo de Didáticos, os demais setores registraram crescimento nominal de 7,8% nas vendas ao mercado, o que em termos reais significa aumento de 2,8%, um dado ressaltado por Mariana Bueno.

A Dinâmica dos Canais de Distribuição

As mudanças nos canais de distribuição também foram relevantes em 2024. Em Obras Gerais, houve um aumento na participação do canal “Livrarias” no faturamento das editoras, passando de 27,1% para 29,3%. Em contrapartida, as “Livrarias exclusivamente virtuais” registraram uma ligeira queda de participação, de 51,8% para 48,8%. Este movimento pode ser explicado pela expansão de redes de livrarias, que buscam ocupar espaços deixados por Saraiva e Cultura.

Já no subsetor de Religiosos, observou-se crescimento acentuado em canais como “Distribuidores” (de 17,3% para 20,7% em faturamento) e, notavelmente, no “Site da Própria Editora / Marketplace” (de 5,1% para 8,5% em faturamento).

Estas novas dinâmicas enterraram o modelo de porta-a-porta, que até 2018 era o terceiro mais relevante para o faturamento das editoras. No ano passado, respirando por aparelhos, o segmento respondia por 1% no geral. Neste ano, desapareceu, sendo substituído pelas vendas diretas por sites próprios ou pelos marketplaces.

Conteúdo Digital sobe de patamar

Em contrapartida, o Conteúdo Digital apresentou crescimento surpreendente, com alta nominal de 21,6% no faturamento das editoras, o que se traduz em um crescimento real de 16% em relação ao ano anterior. Este avanço foi fundamentalmente impulsionado pelo desempenho das Bibliotecas Virtuais, que registraram alta nominal de 47,6% e já representam 44% do faturamento digital das editoras.

O segmento digital alcançou novo patamar e passou a corresponder a 9% do faturamento total das editoras (impresso + digital) em 2024, um aumento de 1 ponto percentual em relação a 2023.

Novidade

A pesquisa deste ano inova ao apresentar, pela primeira vez, resultados por gênero de livro, alinhando o estudo brasileiro a práticas internacionais e permitindo análises mais aprofundadas. Neste recorte, a categoria Não Ficção Adulto lidera em faturamento, representando 28,5% das vendas ao mercado, com R$ 1,2 bilhão em faturamento. Já os livros Religiosos dominam em número de exemplares vendidos, com 29,5% do total.

Para acessar a íntegra da pesquisa, clique aqui.