“Descobrir, ao escrever, o que é impossível de descobrir por qualquer outro meio, fala, viagem, espetáculo etc”. Assim, Annie Ernaux define a escrita em um dos textos que compõem o livro A escrita como faca e outros textos (Fósforo, 240 pp, R$ 74,90 – Trad.: Mariana Delfini). Nele, a Prêmio Nobel faz um mergulho em sua biografia e obra por meio do qual temos acesso ao pensamento da escritora.
No primeiro texto, “Vingar minha raça” (2022) ― discurso que proferiu ao receber o prêmio Nobel de literatura ―, ela apresenta uma valiosa síntese de seu percurso e de suas motivações e elenca os principais aspectos de seu projeto literário.
Na sequência, esmiuça anos de trajetória em “A escrita como faca” (2003), entrevista concedida ao longo de meses para o escritor francês Frédéric-Yves Jeannet em que responde com sinceridade e precisão sobre sua experiência como escritora. Ernaux dá detalhes dos conceitos marcantes de sua obra e comenta, por exemplo, o que chama de “postura de escrita”, o método de exploração interior e exterior, social e individual que garante que o ato de escrever seja sua arma, como uma faca.
Por fim, “Retorno a Yvetot” (2012) é uma conferência dada por Ernaux na pequena cidade onde viveu com os pais até se mudar para cursar a universidade. Ao contar sobre sua infância e os primeiros contatos com a leitura e a escrita em um ambiente de penúria econômica, ela entrelaça memória autobiográfica e reflexão sociológica, explicitando com profundeza a forma como experimentou a desigualdade social no espaço urbano e nas dinâmicas da cidade.
Fotos e outros documentos pessoais selecionados por Ernaux fecham a coletânea.
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