Na última terça-feira (16), aconteceu, em São Paulo, o IA Summit no Mercado Editorial. O evento buscou entender oportunidades e riscos na aplicação da inteligência artificial generativa no mercado editorial. Cerca de 60 pessoas estiveram presencialmente no evento e outras centenas tiveram a oportunidade de acompanhar via internet.

Ao abrir o evento, Dante Cid, presidente do SNEL, fez uma analogia: “Quando perguntado se a IA é boa ou ruim, sempre respondo que ela é como qualquer ferramenta inventada pelo homem. Um martelo, por exemplo: pode ser usado para o bem ou para o mal. Nosso papel é garantir que o uso da IA seja positivo e feito de forma ética em todas as etapas”, defendeu o executivo que acumula o cargo de vice-presidente de relações institucionais para América Latina na Elsevier. Ele reforçou a dupla relação que as ferramentas de inteligência artificial generativa podem assumir. Se de um lado, há o papel de automatizar certos processos internos, por outro, o risco jurídico aumenta, principalmente na área de direitos autorais.

Curioso que sou, estive lá no auditório da Saber, em São Paulo, para acompanhar as discussões e entender como profissionais do mercado tem lidado com esse “martelo” dos nossos tempos. Aqui, compartilho com os leitores do Happy Hour Nespe algumas percepções e insights.

“Quando perguntado se a IA é boa ou ruim, sempre respondo que ela é como qualquer ferramenta inventada pelo homem”, Dante Cid, presidente do SNEL

Estamos fazendo o básico do básico

Os profissionais convidados a apresentar cases de utilização de ferramentas de IA no mercado editorial revelaram que fazem o básico: uma ilustração aqui, uma sinopse acolá, um post para redes sociais ali pela frente, uma tradução técnica e é isso.

Não estamos ainda usando a inteligência artificial generativa na predição de tiragens e reimpressões, nem na automatização de processos editoriais, nem na análise de dados, nem na personalização da experiência do leitor. Ou seja, estamos engatinhando.

Copyright ameaçado

O copyright é um dos pilares da nossa indústria. Sem ele, os direitos de publicação, não haveria editoras. E a inteligência artificial pode ser um risco, neste sentido.

As gigantes de tecnologia driblam os direitos autorais para coletarem dados e treinarem seus sistemas. Na semana passada, o New York Times revelou que gestores, advogados e engenheiros da Meta – dona do Facebook e Instagram – tiveram reuniões quase que diárias entre março e abril de 2023, para discutir como fariam para obter mais dados para treinar modelos de IA. De acordo com o NYT, a empresa já havia usado quase todos os livros, poemas e ensaios escritos em inglês disponíveis na internet para treinar seus modelos, por isso estava procurando novas fontes de informações.

Uma das ideias que surgiu nessas reuniões era comprar a Simon & Schuster, uma das maiores editoras em língua inglesa no mundo e casa de nomes como Stephen King, Collen Hoover e Bobo Woodward. A mineração de informações e dados contidas no enorme catálogo de uma editora como esta é ouro nas mãos dessas plataformas. Mas a editora queria pagar preço de banana. Segundo a apuração do NYT, a Meta planejava oferecer US$ 10 por livro.

Diante de questões como esta, o painel “Cuidados a serem tomados”, os convidados debateram as regulações já feitas na Europa e as que estão em debate no Brasil.

Por aqui, tramita no Congresso o PL 2.338/2023, que dispõe sobre o uso da IA no país. Na semana passada, a ministra Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação, participou de uma audiência pública e cobrou dos parlamentares que a regulamentação saísse até o início de junho. Adiantou ainda que o Governo Federal já está atualizando a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial.

Tudo isso é importante e, segundo os participantes do painel, agora é a hora de fazer pressão no Congresso para que os interesses da indústria sejam preservados, em especial, aqueles relacionados aos direitos autorais.

Um dos pleitos a ser defendido pelo setor nesta regulamentação é que haja remuneração por parte das plataformas para o licenciamento de conteúdos usados pelas ferramentas de inteligência artificial generativa.

Cláusulas protetivas em contratos com autores

Mariana Padula Fonseca, gestora jurídica da Somos Educação, revelou que o grupo já inclui em seus contratos cláusulas que protegem as editoras em caso de uso de IA na criação das obras contratadas. A ideia é que a editora esteja resguardada em caso de utilização destas ferramentas por autores.

O Summit IA no Mercado Editorial foi realizado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR) e Saber.