Nesta semana, a Feira do Livro de Bolonha (08 a 18/04) divulgou os finalistas do BOP Awards, prêmio que dá o reconhecimento às melhores editoras de livros infantis no mundo. E tem uma brasileira no páreo. A editora baiana Solisluna concorre com as chilenas Ediciones Liebre e Muñeca de Trapo, com a argentina Libros Silvestre e com a colombiana Cataplum Libros.

A premiação é dividida em seis categorias regionais e a Solisluna concorre com editoras das Américas do Sul e Central e do Caribe.

O Happy Hour Nespe conversou com Kin Guerra, gerente de comunicação da Solisluna. Na conversa, ele fala do sentimento de aparecer entre as finalistas do Prêmio e ainda sobre o processo de internacionalização da editora.

Confira abaixo a íntegra da conversa:

Happy Hour Nesse – Como vocês receberam a notícia que estavam entre os finalistas latino-americanos no Prêmio da Feira de Bologna?

Kin Guerra: Recebemos esta notícia com surpresa e alegria. Não imaginávamos que estaríamos nesta lista seleta de editoras maravilhosas do mundo. Um importante reconhecimento para uma editora que há 30 anos vem desenvolvendo um trabalho sério e comprometido para com a sociedade e o território onde está inserida.

HH – A Solisluna é uma editora baiana que nasceu para publicar obras regionais, com design arrojado e temáticas muito ligada às artes e expressões culturais da Bahia. Depois, começou a publicar livros infantis, sempre com um olho no regional e outro no mundo. Como se deu essa mudança de chave?

KG – A Solisluna nasceu no ano de 1993 com o sonho de publicar livros para crianças e jovens. Trilhamos um caminho cuidadoso e consciente, desenvolvendo projetos complexos e editando livros de diferentes naturezas: publicações sobre o nosso patrimônio imaterial, arquitetônico e religioso; o meio ambiente; a pluralidade racial, e sobre as questões relacionadas às mudanças sociais e do fazer cotidiano de uma gente singular. Até que, finalmente, em 2009 publicamos o primeiro livro infantil, Vaporzinho, de Enéas Guerra. Um título que conta uma história lúdica inspirada no vapor de Cachoeira, cidade no recôncavo baiano de suma importância para a história do Brasil. Desde então estamos construindo aos poucos e com muito cuidado um catálogo de literatura infantil e juvenil consistente que contribui para a bibliodiversidade e um impacto positivo no mundo.

Gosto muito da máxima do escritor russo Tostói que diz, “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Portanto, buscamos editar e publicar histórias que dialoguem com o nosso contexto. Entendemos a importância e a responsabilidade que é publicar para crianças, geralmente muito mais delicado e complexo do que editar um livro voltado para os adultos. Outro ponto é que, para nós, um bom livro para crianças pode ser lido e apreciado por pessoas de todas as idades.

HH – Outra coisa que noto na história da Solisluna é um interesse genuíno em se mostrar para o mundo. Você mesmo já esteve em alguns fellowships internacionais.  Como você tem pensado essa inserção internacional?

KG – Acreditamos que é fundamental apresentar a nossa produção editorial fora do Brasil, para editoras de todo o mundo, principalmente por sermos uma editora de fora do eixo Sul-Sudeste, sediada na Bahia e no Nordeste do Brasil, região enorme e repleta de manifestações culturais, genuínas e inspiradoras. Além disso, este olhar para fora do Brasil nos mantém atualizados do que está sendo produzido de melhor no mundo.

HH – Tem valido a pena investir nessa internacionalização da editora?

KG – Sim, as trocas com parceiros estrangeiros são maravilhosas. Um trabalho que se iniciou em 2012 e vem consolidando-se aos poucos, buscando construir parcerias de longo prazo. Já estivemos presentes em vários importantes eventos internacionais do livro, o que tem possibilitado maior visibilidade de nossa produção e de nossos autores. Essa internacionalização da editora também permitiu inserir em nossos catálogos renomados autores internacionais e livros com temáticas necessárias voltadas para a inclusão, diferenças, migração… temas relevantes para a atualidade, seja no Brasil ou no mundo. Estas parcerias com as editoras estrangeiras têm gerado bons resultados para a Solisluna.

HH – Por fim, que dicas você dá para quem está pensando em iniciar a sua carreira na indústria do livro ou para aqueles que já estão nela e pensando em abrir a sua própria editora?

KG – Vai depender de qual área do mercado editorial este profissional busca se inserir. Para quem está começando e quer trabalhar em editoras, a primeira coisa é escolher editoras com propostas editoriais que tenham afinidade e busquem contato.

Não se deve enviar a mesma mensagem para diversas editoras, e sim contar uma breve história com argumentos sobre porque o interesse em somar à equipe e como pode contribuir para o propósito da editora. É preciso ter paciência, coragem e um pouco de insistência, pois é um meio complexo que tem maneiras bem específicas de funcionar.

Para quem pensa em abrir sua própria editora, creio que é fundamental experiência prévia e muita, muita coragem para enfrentar desafios antes inimagináveis. Estudar o mercado, analisar o que tem sido publicado e ponderar de que maneira pode fazer a diferença. O livro é um objeto de caráter permanente, e, portanto, é preciso ter paciência e disciplina para construir um catálogo consistente que contribua para um mundo melhor.