No mercado editorial brasileiro, José Jardim é uma figura ímpar. O diretor de produção da Rocco é um dos raros ocupantes deste cargo que não está só nos bastidores do livro. Vez ou outra, ele estrela vídeos de divulgação da Rocco, sobretudo naqueles em que a editora apresenta os seus lançamentos de franquias de sucesso absoluto como Harry Potter. Ele é professor do curso livre de Design Editorial e da pós-graduação em Edição e Gestão Editorial e também o entrevistado desta semana. Na conversa, ele fala sobre tendências, sobre a importância da capa e dos enobrecimentos gráficos.

Happy Hour Nespe – De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura, a capa é um dos principais fatores na hora de decisão pela compra ou não de um livro. Como essa demanda do consumidor se traduz dentro de uma editora? Estamos mais cuidadosos com as nossas capas?

José Jardim – Obviamente que é a publicação em si que determina a escolha do livro, mas a capa, sem dúvida, ajuda na identificação do tema, na aproximação do consumidor ao produto e até na sua decisão de compra. Já faz algum tempo que as editoras se preocupam com a elaboração de uma capa adequada à obra, mas quando se olha para a história recente do mercado editorial, até início dos anos 2000, vemos que poucas tinham uma área de marketing e a criação da capa estava mais associada a beleza ou a significância da arte do que a aspectos comerciais. Hoje é fato que a capa tem suma importância na comercialização e, além da qualidade editorial, pode transmitir algo que ligue o livro ao público pertencente a obra.

HH – Os enobrecimentos gráficos são um diferencial relevante em termos de venda?

JJ – Sim, com certeza, os enobrecimentos são muito valorizados principalmente pelos públicos jovem e YA. Independentemente do tipo de leitor ou segmento editorial, nas edições especiais assim como em reedições de clássicos, os recursos gráficos agregam valor ao produto livro e justificam preços diferenciados.

HH – Todo livro merece receber enobrecimentos gráficos?

JJ – Todo livro é merecedor da melhor qualidade de produção gráfica. Mas os enobrecimentos gráficos, como vernizes, hot stampping, entre outros mais elaborados, estão atrelados principalmente ao tipo de publicação, ao público leitor ou a edição especial, mas, por conta dos custos desses recursos, não deve aplicar a todo livro. A encadernação em capa dura, por exemplo, que nem se considera um enobrecimento, só é utilizada em casos específicos devido ao impacto no preço final do livro. Infelizmente nem sempre o produtor gráfico conseguirá atender as demandas do editor ou do designer por conta da relação custo X tiragem X verba.

HH – Como você tem acompanhado a evolução da impressão por demanda (POD) no Brasil? Já conseguimos ter um nível de qualidade satisfatório?

JJ – A qualidade de impressão e acabamento das produções sob demanda se encontra em excelente nível. Quanto ao custo, ainda não está adequado para o padrão de negócio do mercado. O Print on Demand (POD) é ótima solução para a impressão de um ou dois exemplares de um título esgotado, mas mesmo para produção de baixa tiragem não se chega a um resultado interessante para comercialização quando comparado as menores tiragens de gráfica convencional.

HH – De tempos em tempos, surgem novas tendências quando o assunto é projeto gráfico de livros. Você consegue detectar alguma neste momento?

JJ – A “pintura de trilateral” assim como a “artística” (também na trilateral, mas com desenhos) tem ganhado força nas produções especiais. Neste momento há muitas publicações com um retorno a técnica de imprimir no lado cru do cartão da capa e não aplicar nenhuma laminação, tornando a capa mais “rústica”. Falando de miolo, utiliza-se hoje mais chapados nas aberturas e ícones ou arabescos na diagramação de texto, para dar um “tom” conceitual relativo ao tipo de obra.